Refúgio – I

Ser e Sentir
Enredada nos cinco agregados, se afogando no grande excesso, mesmo sabendo nadar.


Ser e Sentir
Numa água expandida, na sobrecarga emocional, sem sonhos, sem ele, mesmo sabendo que seria assim.


Ser e Sentir
Na racionalidade, buscando entender o que não tem explicação.


Ser e Sentir
Deludida, somente isso, quando toma como real aquilo que é pura distração.


Ser e Sentir
Numa bolha, transmigrando para outra bolha, incessantemente, buscando Ser sem que faça doer!

Sim porque dói muito.
A dor de tanto tempo de confusão, entre Ser e Sentir na insubstancialidade.
Quando tudo o que existe de conforto é apenas a verdadeira Libertação, no Vazio.

Ser e Sentir na lucidez.

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O Encontro

“Desde antes dos tempos eu sou livre.

Este corpo não sou eu.

Eu não sou limitado por este órgão.

Eu sou a vida sem limites.

Eu nunca nasci, e eu nunca morri.

Olhe para o mar e o céu cheio de estrelas, manifestações de minha mente, verdade maravilhosa.

Desde antes dos tempos, eu sou livre.

O nascimento e a morte são apenas portas pelas quais passamos, limiares sagrados no nosso caminho.

Nascimento e morte são um jogo de esconde-esconde.

Então ria comigo, segure a minha mão, vamos dizer adeus, despedir-nos, reunir-nos novamente em breve.

Nós nos encontramos hoje. Nós vamos nos encontrar novamente amanhã.

Nós vamos nos encontrar na fonte a cada momento.

Nós nos encontramos uns aos outros em todas as formas de vida.”

Thich Nhat Hanh

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Unbroken*

When the past is broken

Should we try to put the pieces together again

Somethings turn to dust 

Barely a memory 

That even a photo 

Seems like a mere phantom 

Surely better forgotten

Let what is gone be gone

There is no going back

Any repair will never be like the original 

And may even do it an injustice 

Stirring a corrupt nostalgia for the past 

A ceremonial burial would be preferred 

Yet there are moments 

When the broken becomes unbroken

In a way that can never be the same as before

It must, by necessity,  be different

Shattered fragments coming together 

Speaking a thousand times louder 

Telling a new story 

Each broken piece 

A voice in a choir 

Singing of death and renewal

A message 

From the world of the broken 

Let’s not call it a repair 

It’s a resurrection 

A trumpet 

From the darkness of despair 

An indescribable dignity 

Not only unbroken 

But presenting something new 

An unexpected story

An unexpected face 

Through every destruction 

It cries out 

More noble than ever

I am here 

I am here 

You shall not 

You shall never 

Ignore or forget me 

I am the unbroken

Coming out of the dust 

shining out from the void  

When the sky overhead crashes upon you 

And the ground beneath you drops away 

Offer yourself to be totally broken apart 

So you may be broken open 

Then you will know

The unbreakable undying spirit

That you are.

*Shiv Charan Sing – https://karamkriya.com

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Nada de Especial*

“Just Sitting” – Joan Halifax: https://twitter.com/jhalifax

As palavras não surgem;

o que há somente está além de palavras;

[palavras que querem sair 

mas não saem

não sabem

não vêm

não têm porque vir]

Não busco, não forço, não reprimo, não mexo.

Palavras, linguagem, 

expressar o que sente;

por meio de que? 

por meio da arte, do gesto, do silêncio, do olhar;

Sentir por meio da angústia, do medo, da surpresa, do amor, do encanto;

Voar para fora, para dentro, no meio do centro de tudo:

[encontro, ali, ali mesmo, um mundo]. 

Sentar, zazen, quietude;

O movimento que fica 

é o da mente, da mente;

Movimento fluente é isso, 

o que fica, o perene é a mente;

a mente, a mente. 

[como num passe de mágica, quanto menores ficamos, mais amplos e ilimitados nos tornamos]**

____________

*Nada de Especial: Vivendo Zen – Charlotte Joko Beck: https://www.skoob.com.br/livro/23809#_=_

**Monge Daiko: https://www.zendobrasil.org.br/wp-content/uploads/2023/04/Jornal-Zendo-84.pdf

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Contrastes

Old City Jerusalem. February, 2023.

Ciclo incessante: continuidade.

Sem início – Sem fim – Sem direção.

[Como? 

Por que?]

Especulações.

Num constante ir-e-vir.

Ser-Viver-Morrer.

No céu há um mapa! 

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Vida & Movimento

Tel Aviv, Israel. Janeiro, 2023.

“(…) sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso…

Guimarães Rosa in Grande Sertão Veredas

Diante de nós, obstáculos;

Em essência, caminhos retos nas curvas.

A vida flui e se espraia 

[confunde, amedronta, encanta, floresce]

O tudo e o nada misturam os afetos;

O cinza em tons nas cores vibrantes.

Avisos, alertas, perigo

[de nada mais servem]

Somente no renovar, a vida segue. 

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Tempo & Movimento I

Notas registradas durante o vôo entre São Paulo e Istambul, a caminho de Tel Aviv, em Janeiro de 2023

Comecei a escrever quando faltavam pouco mais de 4 horas para pousar em Istambul, conexão para Tel Aviv, o meu destino final.

Estou aqui sentada em minha poltrona e meu “vizinho”, sentado ao lado, é um gentil indiano.

Descobri que Istambul é também rota comum para quem tem Índia como destino.

E me lembro do seguinte. Na 3ª fila que peguei no aeroporto em São Paulo, antes de embarcar (nem quero lembrar das 2 primeiras filas!!), conheci um brasileiro que estava viajando para a Índia, disposto a fazer uma peregrinação nos caminhos supostamente trilhados por Buda. Não sei o nome do moço, nem onde vive. Mas falamos de Buda! A fila desta vez era para o embarque. E instantes depois estávamos diluídos entre os demais passageiros, tendo sido possível somente desejar boa viagem um ao outro. 

O embarque para este vôo atrasou mais de 1 hora. E eu estava estressada desde quando pisei no aeroporto de Guarulhos. No entanto, no instante que resolvi me abrir para uma breve conversa em uma dessas filas que, a “magia” voltou a operar em minha vida.

Acho que tudo o que eu precisava nesses últimos tempos era mesmo de um grande movimento… 

Quando faltava apenas 1 hora para pousar em Istambul, em uma das minhas idas ao banheiro do avião, fui abordada por uma brasileira que também estava viajando para Israel. Ela soube que eu estava indo para o mesmo destino que o seu porque – percebo a magia circulando novamente – ela estava sentada ao lado do rapaz da peregrinação nos caminhos trilhados por Buda neste mesmo vôo. Em suas conversas, ele comentou sobre o meu destino (Tel Aviv). E, ao me avistar em pé na fila da banheiro, ele avisou a brasileira, que se dirigiu até mim e pediu para ficarmos juntas para fazermos a conexão no aeroporto na Turquia, algo completamente inédito para ambas, já que nunca pisamos naquelas terras.

O horário previsto para pousar em Tel Aviv estava marcado para 11:30pm (horário local) e Geert já deveria estar me esperando. O vôo dele saindo de Bruxelas chegaria às 8:20pm em Israel.

Restando menos do que 10 minutos para o pouso em Istambul, sinto intensa emoção. Parecia existir um divisor de águas entre o que eu era até antes de viajar e agora.

De acordo com Aristóteles, o tempo só existe quando existe movimento. E o tempo avançou em vários fusos horários e em espaço, muito longe de casa. Eu me movimentei e aqui me encontro, em renovação.

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A Rendição

Buddha Shakyamuni – Mosteiro Zen Morro da Vargem
白雲山禅光寺
Hakuunzan Zenkoji
Monte da Nuvem Branca – Templo da Luz do Zen https://mosteirozen.com.br

Não há saída!                 

Não há para onde ir. 

[Há somente o que sempre existiu

Aqui, onde não há dentro e nem fora].

Há, sim, o verdadeiro propósito

[A existência diluída].

Há, sim, uma porta:

                    [A porta que abre e fecha 

                     A porta do ar que entra e sai

                     A porta de ser e de estar]

*** Há somente um momento presente 

     Na vida futura

     No passado que mostra 

     De onde nunca saiu***

Num ciclo infinito 

De quem sonha dormindo

Para sempre um pecado 

[Dualidade

Separação]

Relembra a 

Unidade

[Na outra margem do rio]. 

Há, sim, a grande travessia.

De um lado, o familiar 

Do outro, o mistério.

Todo lugar é onde devo estar 

Onde não há saída. 

[É quando acontece 

          .

          .

                                  .

                                  .

                                  a rendição]

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Outono Encantado

Na vida de todos os dias, feita de luzes e sombras, percebo a existência de seres “invisíveis” ao sair para a rua e me deparar com a beleza disfarçada em sua expressão, apontando para a lua, e que já foi declaradamente dada como morta;

Na vida de todos os dias, feita de algo bom e ruim, percebo a relatividade das manifestações, ao sair para a rua e me encantar com a frondosa, alegre e atraente aos olhos daqueles que sabem ver, indicando para o além do além, para além do óbvio dos olhos físicos, para onde sempre existe o possível;

Na vida de todos os dias, feita de dentro e de fora, percebo a unidade ao sair para a rua e me reencontrar com ela, que me ensina a grandeza do que é simples, do que é livre de obstáculos, do que é ignorado, invisibilizado, esquecido, mostrando para mim inúmeras razões para agradecer o caminho encontrado.

Nesta vida cotidiana, o alento vívido e presente, onde piso, no momento a momento, sempre seguindo, tomando como exemplo a naturalidade da existência dela, sempre ela, que me mostra o movimento constante, as transformações incessantes, a continuidade inerente a tudo o que existe, sem obstáculos, sem obstáculos entre corpo e mente, entre longe e perto, entre claro ou escuro, entre eu e ela.

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OS ESTATUTOS DO HOMEM (Ato Institucional Permanente)

Thiago de Mello (1926 – 2022)

Descanse em Paz

Artigo Primeiro

Fica decretado que agora vale a verdade. Agora vale a vida, e de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira. 

Artigo Segundo 

Fica decretado que todos os dias da semana,  inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo. 

Artigo Terceiro 

Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito  a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança. 

Artigo Quarto 

Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu. 

Parágrafo único

O homem, confiará no homem como um menino confia em outro menino. 

Artigo Quinto

Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.

Artigo Sexto 

Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor. 

Artigo Sétimo 

Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. 
Mas que sobretudo tenha  sempre o quente sabor da ternura. 

Artigo Oitavo 

Fica permitido a qualquer  pessoa, qualquer hora da vida, uso do traje branco. 

Artigo  Nono 

Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.  

Artigo Décimo

Decreta-se que nada será obrigado nem proibido, tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela. 

Parágrafo único 

Só uma coisa fica proibida: amar sem amor. 

 Artigo Décimo Primeiro 

Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais compra o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou. 

Artigo Final

Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso  e das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem. 

(Santiago do Chile, abril de 1964 dedicado a Carlos Heitor Cony )
  

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